DA VARANDA dezembro/1991 "Para Luan ler, na janela do apartamento do av^o, no ano 2010". I Eu vi que havia um pinheiro entre a janela e o mar: por quanto tempo o dinheiro iria isto deixar? Pinheiro, s'obrio pinheiro, 'e tempo de navegar. II Balan,ca as folhas, sacode teu porte esguio, natural, presta aten,c~ao para o mote da destrui,c~ao geral; balan,ca que ainda podes do vento colher o sal. III Espalha o perfume doce da terra de onde tu vens, como se ainda fosses senhor dos ares que tens, mas reconhece, acabou-se a era dos tr^es vintens. IV De longe te vejo esguio entre florestas de pr'edios porque resistes, bravio, a todo esse grande ass'edio. 'E um enorme vazio num imenso mar de t'edio. V O mar, de longe, resiste: um pedacinho de vis~ao! Ser'a que ele ainda existe ou 'e minha impress~ao? Fecho os olhos, fico triste, construindo uma ilus~ao. VI Da minha janela eu vejo um mundo se transformando: o pinheiro, o realejo, o mar, o vento soprando, e o homem com seu desejo de tudo ir modificando. VII Guardo um segredo secreto. N~ao resisto, vou contar: eu desejo que meu neto da janela possa olhar pela selva de concreto uma pontinha de mar. VIII Se o pinheiro resistir, se o vento continuar, talvez ele possa ouvir por detr'as do marulhar, quando o vento n~ao bramir, o pinheiro assoviar. Gorgonio Neto IX Vintens O que s~ao miseros vintens. Que olhar mais ganancioso. Quisera que desse moedas em um pinheirozito. vintens, nada mais que miseros vintens Prefiro dar uma olhada Nas frondosas galhadas.