Construção de bibliotecas

Bibliotecas são amplamente utilizadas na linguagem C. Além da biblioteca padrão (LibC) e das bibliotecas disponibilizadas pelo sistema operacional, o programador pode desenvolver suas próprias bibliotecas, para usar em seus projetos ou disponibilizá-las a terceiros.

As bibliotecas podem ser construídas para ligação estática ou dinâmica (DLL) com o código executável que as utiliza. Este texto explica as duas técnicas em ambiente Linux.

Para usar um exemplo concreto, consideremos a biblioteca ''hello'', que oferece funções para escrever na tela mensagens de "olá" em diversas linguagens. O código-fonte dessa biblioteca é composto pelos seguintes arquivos:

#include <stdio.h>
#include "hello.h"

void hello_pt ()
{
   printf ("Ola, mundo!\n") ;
}
#include <stdio.h>
#include "hello.h"

void hello_en ()
{
   printf ("Hello, world!\n") ;
}
#include <stdio.h>
#include "hello.h"

void hello_fr ()
{
   printf ("Salut, le monde !\n") ;
}

O arquivo de cabeçalho também faz parte da biblioteca:

#ifndef __HELLO__
#define __HELLO__

void hello_pt () ;
void hello_en () ;
void hello_fr () ;

#endif

Um programa que utilize a biblioteca ''hello'' pode ser escrito desta forma:

#include "hello.h"

int main ()
{
   hello_pt () ;
   hello_en () ;
   hello_fr () ;

   return 0 ;
}

Bibliotecas estáticas

Para construir uma biblioteca de ligação estática são necessários vários passos. Inicialmente, todos os arquivos-fonte que compõem a biblioteca devem ser compilados, para gerar os arquivos-objeto correspondentes:

gcc -c hello_pt.c
gcc -c hello_en.c
gcc -c hello_fr.c

A seguir, deve ser usado o utilitário ''ar'' (archiver) para juntar todos os arquivos-objeto em uma biblioteca estática chamada ''libhello.a'':

ar rvs libhello.a hello_pt.o hello_en.o hello_fr.o

Os flags ''rvs'' indicam:

O utilitário ''ar'' possui diversas outras opções (flags). Por exemplo, pode-se consultar o conteúdo de uma biblioteca estática com o comando abaixo.

ar t libhello.a
hello_en.o
hello_fr.o
hello_pt.o

Pode-se consultar todos os símbolos definidos em uma biblioteca estática (ou em qualquer arquivo objeto) através do utilitário ''nm''. man nm para a descrição da tabela.

nm libhello.a

hello-en.o:
0000000000000000 T hello_en
                 U puts

hello-fr.o:
0000000000000000 T hello_fr
                 U puts

hello-pt.o:
0000000000000000 T hello_pt
                 U puts

Para atualizar/incluir qualquer arquivo da biblioteca, basta executar ''ar'' novamente, indicando o(s) arquivo(s) a atualizar/incluir:

ar rvs libhello.a hello_it.o hello_es.o hello_jp.o

A forma mais simples de usar a biblioteca é indicá-la ao compilador no momento da compilação ou ligação:

gcc main.c -o main libhello.a

Uma opção abreviada de ligação pode ser utilizada. Nela, não é necessário indicar o nome completo da biblioteca:

gcc main.c -o main -L. -lhello

A opção ''-L.'' é necessária para incluir o diretório corrente nos caminhos de busca de bibliotecas do ligador. Esta abordagem é melhor que a anterior, pois neste caso o ligador somente irá incluir no executável final os objetos que forem efetivamente necessários.

Observe que a biblioteca foi informada ao ligador na opção ''-lhello''. Por default, ao encontrar uma opção ''-labc'', o ligador irá procurar pela biblioteca ''libabc.a'' nos diretórios default de bibliotecas (''/lib'', ''/usr/lib'', ''/usr/local/lib'', ...) e depois disso nos diretórios informados pela opção ''-L''.

Bibliotecas dinâmicas

A construção de uma biblioteca de ligação dinâmica é um pouco mais complexa. Primeiro, é necessário compilar os arquivos-fonte que irão compor a biblioteca usando a opção ''-fPIC'', que gera código binário independente de posição (PIC - Position Independent Code). Como a ligação da biblioteca ocorre durante a carga/execução, a posição de seu código na memória dos processos que irão utilizá-la não pode ser determinada previamente.

gcc -fPIC -c hello_pt.c
gcc -fPIC -c hello_en.c
gcc -fPIC -c hello_fr.c

Depois, pode-se criar a biblioteca dinâmica, a partir dos arquivos-objeto:

gcc -g -shared -Wl,-soname,libhello.so.0 -o libhello.so.0.0 hello_pt.o hello_en.o hello_fr.o

Observe que a opção ''-Wl'' transfere a opção ''-soname=libhello.so.0'' ao ligador. Essa opção permite definir o nome e versão da biblioteca.

Finalmente, para instalar a biblioteca, deve-se movê-la para o diretório adequado (geralmente ''/usr/lib'' ou ''/usr/local/lib'') e gerar os links necessários para indicar os números de versão (0) e revisão (0):

mv libhello.so.0.0 /usr/local/lib
cd /usr/local/lib
ln -s libhello.so.0.0 libhello.so.0
ln -s libhello.so.0 libhello.so

ls -l
lrwxrwxrwx  1  prof      12   Out 2 18:20  libhello.so -> libhello.so.0
lrwxrwxrwx  1  prof      14   Out 2 18:06  libhello.so.0 -> libhello.so.0.0
-rwxr-xr-x  1  prof    6914   Out 2 18:06  libhello.so.0.0

A compilação usando a biblioteca ocorre da mesma forma que no caso estático:

gcc main.c -o main -L. -lhello
./main

Caso a biblioteca esteja em um diretório não listado em ''/etc/ld.so.conf'', que é o arquivo de configuração do carregador e ligador dinâmico, deve-se incluir o diretório nesse arquivo e a seguir executar ''ldconfig'', ou informar o carregador dinâmico através da variável de ambiente ''LD_LIBRARY_PATH'':

export LD_LIBRARY_PATH=.
./main

Os processos de construção de bibliotecas e da execução com bibliotecas para ligação dinâmicas são estudados em mais detalhe na disciplina Software Básico.