Os Ventos Frios

O que é bom leva e traz.

Os ventos trouxeram uma frente fria, um descanso em meio calor incessante.
Que droga, o ar frio me lembra de tudo.
Os ventos levaram a frente quente, mas eu nem pensei demais nisso.
Que droga, o ar frio me lembra de tudo.
Os ventos relembraram as memórias que a muito foram perdidas, mas eu já era outro em meio ao meio.
Que droga, o ar frio me lembra de tudo.
Os ventos bateram e roubaram meu cachecol, a única coisa que consegue me esquentar. Ele era vermelho, combinava tão bem com a minha roupa.
Que droga! O ar frio me lembra de tudo!
Os ventos me trouxeram uma nuvem de poeira enorme e errática, agora tenho mil e uma coisas para varrer por aqui! Os planos parados na estante, o chão encharcado com tinta azul, a coleção de dentes no pote, tudo foi preenchido pela poeira e está nojento.
Que droga, o ar frio me lembra de tudo.
Os ventos cantaram com uma voz fraca uma canção sórdida e desgostosa. Tudo que eu pude ouvir eram lamentos e discórdia com uma estranha e deslocada harmonia.

Que droga, o ar frio me lembra de tudo.