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O Pequeno Lebrel Italiano Ponto de Vista sobre a Raça
Elias P. Duarte Jr. & Roberto Machniewicz
O objetivo desta página é disponibilizar para as pessoas interessadas
informações em português sobre os Greyhounds Italianos. Para ficar mais
interessante e fácil de ler, organizamos as informações no formato de
perguntas & respostas, que inclui algumas das questões que mais respondemos sobre
a raça.
As informações disponíveis nesta página podem ser utilizadas mas, ao
fazê-lo, por favor indique a fonte: © página Web do Canil do Reino
www.canildoreino.com.br
Segue um índice dos temas abordados:
- Como começou seu interesse pelos galguinhos? Desde quando vocês criam a raça?
- Então os Italians são galgos? O que são galgos?
- Falando em galgos, existe alguma raça de galgo genuinamente brasileira?
- Voltando aos galguinhos, qual o nome correto da raça?
- Como você descreve os galguinhos?
- Na corrida qual a velocidade máxima que atingem?
- Como você descreve o formato do Italian Greyhound?
- A raça tem grande variação de tamanho, certo?
- Cite algumas particularidades dos galguinhos.
- Já que são cães de pelo curto, os cuidados de manutenção são simples?
- Como é a saúde dos Italians?
- Como é o temperamento do Galguinho Italiano?
- E o temperamento dos filhotes?
- Falando em filhotes, quantos nascem em uma ninhada?
- E sobre os velhinhos, você tem dicas?
- Como é o comportamento dos galguinhos em matilha?
- É fácil ou difícil treinar um Italian Greyhound?
- Como faço para treinar um galguinho a fazer as necessidades no lugar certo?
- Quando e onde surgiram os galguinhos?
- Quando é que os primeiros galguinhos chegaram ao Brasil?
- E como seguiu a evolução da raça no país?
- E a história mais recente da raça?
- Quais são as cores do galguinhos?
- De onde surgiu a restrição da FCI sobre as marcações brancas?
- De onde vem o nome "Canil do Reino"?
Como começou seu interesse pelos galguinhos? Desde quando vocês criam a raça?
A primeira vez que vi cães da raça Italian Greyhound foi no início
de 1981, em exposições de cães em Belo Horizonte. Posso dizer que
me causaram uma forte impressão, e ali começou o sonho de criar os
galguinhos. Desde aquela época temos estudado a raça, e a cinofilia
como um todo, tendo tido a oportunidade de visitar, ainda antes de começar
a criação, criadores e exposições na América do Norte, Europa,
Ásia e América do Sul. O começo da criação foi no ano 2000, com
a vinda do Baldo para o Brasil. O registro
do Canil do Reino foi feito ainda no ano 2000 e homologado em 2001,
portanto o sonho demorou quase 20 anos para se tornar realidade.
É difícil de acreditar que já se passou o mesmo tempo desde
que efetivamente começamos a criação. Nestes 20 anos, nos
esforçamos para criar cães saudáveis, doces e corretos. Com um programa de criação de
pequeno porte, são até o momento 30 campeões
(jul/2021, prop., criação, inc. co-), exportamos para os EUA, Argentina e Itália
e de lá nossa linha de sangue seguiu para muitos outros países:
Rússia, Colômbia, Espanha, Finlândia, Israel, Canadá, Letônia, Alemanha, França, Áustria, República Tcheca,
Polônia, além do berço da cinofilia, a Inglaterra.
No total, descendentes dos nossos cães estão espalhados em 17 países. Desde
2007 iniciou-se a carreira de árbitro, atualmente
incluindo os grupos FCI 1, 6, 8, 10. Não posso deixar de destacar que
esta página Web está disponível continuamente desde 2001. A página tem o objetivo
de ser útil para as pessoas conhecerem melhor diversos aspectos do Pequeno
Lebrel Italiano.
Então os Italians são galgos? O que são galgos?
Sim, os Italian Greyhounds são galgos, cães originalmente
desenvolvidos para a caça baseada na visão e velocidade. Entre as diversas
raças de galgos encontramos cães de diversos tamanhos, desde gigantes
(Borzoi, Irish Wolfhound, Scottish Deerhound) até cães de grande porte
(Afghan Hound, Greyhound, Saluki), passando por uma raça de médio porte
(Whippet) e finalmente os Italian Greyhounds são os menores representantes
da família. Todos os galgos têm características únicas que os diferem das outras
raças, como a baixa taxa de gordura em comparação com músculos, além do
formato aerodinâmico.
Falando em galgos, existe alguma raça de galgo genuinamente brasileira?
A resposta pode parecer surpreendente para muitos, mas sim, há uma raça brasileira de galgos.
Trata-se do Galgo da Campanha.
Preciso agradecer ao Émerson Hippólyto de Queiróz que me chamou atenção
para esta matéria que apareceu
na revista Cães & Cia número 294, de novembro de 2003. Mais recentemente,
na revista Cães & Cia 380, de janeiro de 2011,
apareceu uma outra matéria sobre o Galgo da Campanha, inclusive com telefones e e-mails de criadores.
Algums gaúchos ao me verem caminhando com um galguinho já haviam
comentado sobre a raça que chamam no interior do Rio Grande do Sul de
"lebreros". Assim, mesmo antes de ficar sabendo do Galgo da Campanha, eu
já acreditava que havia uma "raça" de galgos no interior do Rio Grande
do Sul. Espero sinceramente que mais interessados apareçam e consigam
fazer com que esta raça se desenvolva.
Voltando aos galguinhos, qual o nome correto da raça?
O nome da raça na Itália, considerado seu país de origem, é Piccolo
Levriero Italiano. A tradução exata para o português é
Pequeno Lebrel Italiano. Este é o nome usado no padrão
oficial da CBKC - Confederação Brasileira
de Cinofilia. No Brasil alguns criadores e proprietários usam este
nome, ou apenas Lebrel e no plural Lebréis. Vale destacar que
a grafia correta encontrada nos dicionários -- lebréu --
não é usada nem no Brasil nem em Portugal, incluindo
órgãos oficiais, imprensa e criadores.
Muitas pessoas no Brasil usam o nome em inglês, Italian
Greyhound. Às vezes usamos também apenas a palavra
Italian, o termo Greyhound Italiano ou ainda Galguinho
Italiano, mas cada vez mais comum é chamá-los simplesmente de
galguinhos.
Como você descreve os galguinhos?
Os galguinhos são cães extremamente afetuosos, de pequeno porte, com
estrutura física aerodinâmica, que vêm sendo selecionados há milênios
(literalmente!) para corrida e caça com visão. Além desta função básica
de todos os galgos, os galguinhos sempre foram cães naturais de companhia,
mesmo pelo porte pequeno, adequados para dentro de casa. Assim, a função
de companhia também vem sendo selecionada desde a Grécia Antiga,
passando pela Europa Medieval, até os dias de hoje. O resultado são
cães muito ligados aos donos, sensíveis, que demandam bastante atenção,
mas mantendo a independência característica de todos os galgos.
Na corrida qual a velocidade máxima que atingem?
Existem registros de que a velocidade máxima que um galguinho atinge
é de 42 Km/hora, o que é impressionante, tendo
em vista o tamanho de um galguinho.
Como você descreve o formato do Italian Greyhound?
Uma das principais características do Italian Greyhound é sua silhueta, o
formato com curvas que formam um verdadeiro "S" em alguns cães.
Os Galguinhos Italianos são cães de estrutura óssea bastante
refinada. Deve-se tomar cuidado entretando com cães extremamente finos,
que muitas vezes perdem inclusive as características de conformação
desejadas em um cão que é de caça: posteriores fortes, boas angulações,
movimentação leve mas "limpa", fluídica.
No outro extremo encontramos Italians mais pesados, que podem chegar até a
parecer grosseiros se comparados com os exemplares mais finos.
Bom, o desafio do criador de Lebréis é justamente conseguir um ponto de
equilíbrio: cães com excelente estrutura, mas que podem ser considerados
refinados.
A raça tem grande variação de tamanho, certo?
Sim, o padrão oficial permite cães de 32 a 38 cm medidos na cernelha. Na
realidade, é muito fácil encontrar cães com alguns centímetros a mais ou a menos.
Considerando que é uma raça pequena, esta variação de tamanho é realmente
muito expressiva. Encontramos Italians puros que são quase "a metade" de
outros. Destacamos que esta grande variação está presente em linhagens de
todo o mundo.
Cite algumas particularidades dos galguinhos.
Os galguinhos adoram dormir com seus donos. Eles eram usados na Idade
Média para aquecer as camas no inverno europeu, e mantém até hoje
o instinto, entrando "debaixo" do edredon e se grudando ao dono para
esquentá-lo. A primeira vez que alguém vê o comportamento tem a impressão
que o cãozinho vai sufocar, mas não se preocupe, eles vêm fazendo isso
há séculos! Além disso eles têm temperatura quentinha, mais alta que
a das outras raças. Por isso são ainda mais sensíveis ao frio.
Os galguinhos têm uma movimentação peculiar, com elevação do membro
anterior. Apesar de que esta movimentação é parecida com o hackney,
ela é diferente, pelo alcance definitivo que deve demonstrar.
Já que são cães de pelo curto, os cuidados de manutenção são simples?
Os galguinhos são cães muito limpos, que não têm
cheiro e seu pouco pelo realmente demanda pouca manutenção.
Por outro lado,
os dentes da maioria das linhagens de Pequeno Lebrel Italiano
apresentam grande acúmulo de tártaro. Recomenda-se que os dentes
sejam escovados pelo menos três vezes por semana em casa, e uma vez por ano deve
ser feita a remoção de tártaro por veterinário.
Falando em veterinário, é importante destacar que, como todos os
galgos, os Lebréis têm alta sensibilidade à anestesia. Já vimos casos de
galguinhos que não resistiram após serem anestesiados. A única anestesia
segura é a inalatória.
Além disso, as unhas crescem rapidamente, e devem ser aparadas
semanalmente.
Como é a saúde dos Italians?
Acreditamos que é preciso ser bem claro neste ponto: o Pequeno Lebrel
Italiano é saudável, mas é frágil. É realmente uma
raça saudável, a maioria dos galguinhos chega aos 10 anos bem firmes,
muitos passam dos 12, há casos de 15 ou mais anos. Entretanto é
impossível negar que é uma raça frágil. Basta examinar os ossos
das patas/pernas dianteiras de qualquer exemplar típico. Os ossos são muito
finos e longos e, em comparação com outras raças, a incidência
de fraturas pode ser considerada elevada. Fraturas acontecem mesmo
para quem toma todas as precauções. Galguinhos são muito ativos e muito
ágeis, e estas características não combinam com sua constituição física. Eles
são escaladores, são muitos os casos reportados de galguinhos que se
fraturaram escalando grades e cercas do tipo x-pen. Conhecemos casos de
galguinhos que se fraturaram ao pular de um sofá e cairem de mau jeito em
um piso liso. Fortalecer a musculatura dos galguinhos e selecionar cães
de linhagens de ossos fortes são dois caminhos caminhos extremamente
importantes, mas mesmo assim acidentes acontecem, como estes reportados
acima. Uma fratura implica em procedimento bastante caro (muitas vezes
cirurgia para colocação de placa e pinos),
sem falar do desgaste de ter um cão sofrendo durante semanas/meses até
a recuperação. Alerta: não há qualquer exagero no que
está sendo dito aqui.
Desta forma, não recomendamos os galguinhos para pessoas com crianças
pequenas ou muito ativas em casa. Para quem procura um cão de pelo curto,
um Terrier Brasileiro, um Beagle ou um Labrador pode ser mais adequado
nestes casos. Não recomendamos também galguinhos para pessoas que têm
outros cães grandes em casa. Já ouvimos casos de fraturas ocorridas quando
um cão "energético" brincava com um galguinho.
Além dos ossos finos e longos, os Galguinhos têm uma aptidão enorme
para a corrida e para o salto. É impressionante, mas alguns saltam
1 metro e meio sem qualquer impulso: estão parados e, de repente,
estão voando. Esta característica, aliada a um temperamento às vezes
assustadiço, pode levar a acidentes; assim todo proprietário deve ter
máximo cuidado com janelas altas e varandas. Pular é uma grande tentação, portanto varandas e janelas
representam grande perigo para os galguinhos. Todas as janelas e
varandas de andar alto devem ser teladas, ou abertas com cuidado para o galguinho não se
atirar.
É importante compreender este aspecto dos Italians. Todo proprietário
deve localizar um excelente veterinário ortopedista na sua região, para
estar preparado caso haja um problema. Atenção: a fratura em muitos casos
demanda cirurgia e nem todo veterinário conhece o procedimento correto.
Como é o temperamento do Galguinho Italiano?
Como o próprio padrão diz, o Italian Greyhound tem temperamento reservado.
Em geral, eles não são muito amigáveis com desconhecidos, mas são absolutamente
fascinados pelos seus donos. É uma raça que demanda bastante atenção, assim não
é indicada para quem fica fora de casa a maior parte do dia.
Apesar de que muitos são naturalmente reservados, pode-se notar um aumento
dos cães com temperamentos mais expansivos, que decorre, na nossa opinião, da busca
de exemplares mais desinibidos para exposições de conformação.
É preciso dizer que há exemplares na raça que são extremamente
tímidos, e não gostam nem de sair de casa. Que se sentem muito desconfortáveis
só de ver estranhos. Vários criadores recomendam que estes exemplares
não sejam usados na reprodução.
De forma geral, os galguinhos são cães sensíveis, e toda abordagem deve ser feita
com cuidado.
E o temperamento dos filhotes?
Os filhotes têm alto nível de energia, como em virtualmente todas as raças.
Assim eles são extremamente brincalhões, não param quietos um minuto e vão
buscar tudo o que tiverem ao alcance para roer e brincar. Fique de olho nos
objetos que você não quer que sejam destruídos!
Este alto nível de energia se mantém em torno de 20% dos adultos,
na nossa estimativa. O novo proprietário de um galguinho deve ficar alerta, pois pode
ter sido "sorteado" para ter um destes super-energéticos companheiros! Recomenda-se que
estes cães recebam um treinamento especial, e atividades tais como agility podem
representar o canal ideal para a liberação do excesso de energia.
Falando em filhotes, quantos nascem em uma ninhada?
Posso arriscar que a média é de 3 filhotes, mas ninhadas de 1, 2, até 5,
não são incomuns. O record mundial é de 12 filhotes em uma única ninhada.
E sobre os velhinhos, você tem dicas?
Note que diferentes cães se tornam "velhinhos" (para esclarecer: a palavra correta aqui seria o plural de senil)
em diferentes idades. Alguns poucos precocemente aos 10 ou 11 anos, a maioria
mais tarde, até mesmo só a partir dos 15 anos. A minha principal dica para os
velhinhos é que eles não fazem as refeições de uma só vez. Mesmo
que estejam acostumados a vida toda a comerem em horários específicos,
isso muda. Na nossa experiência encontramos um jeito de resolver: basta oferecer a comida também
em mais horários alternativos. Observe que não recomendamos que a
comida fique sempre à disposição, mas que seja oferecida em momentos
específicos.
Como é o comportamento dos galguinhos em matilha?
Apesar de que em geral os galguinhos convivem bem entre si, comportamentos agressivos
podem surgir na matilha. Diria que a maioria convive
bem, mas não se iluda, há disputas hierárquicas e, em alguns casos,
é melhor separar os cães. Nós tivemos um macho agressivo com outros
machos (com as fêmeas era absolutamente tranquilo) e realmente tivemos que optar
por mantê-lo sempre separado dos outros machos. Em alguns casos
surgem "inimizades" entre dois cães, mas em algum momento que podem ser esquecidas. Uma
recomendação importante: cães velhinhos não devem ficar junto
com a matilha sem supervisão. Nunca tivemos um acidente desta natureza em
casa, mas já ouvimos histórias de mais de um colega criador.
É fácil ou difícil treinar um Italian Greyhound?
De modo geral pode-se dizer que treinar um galguinho é um desafio.
Não espere a colaboração de um Pastor Alemão ou um Poodle.
O treinamento deve ser feito com muita motivação, nunca use violência!
Caso contrário, o cão vai criar barreiras difíceis de superar no
aprendizado.
A chave para o treinamento é a persistência, com tantas repetições quantas
necessárias, todas em sessões curtas com muita motivação e a dose de firmeza
necessária para a imposição de limites. O treinamento positivo é muito adequado
para os galguinhos.
Como faço para treinar um galguinho a fazer as necessidades no lugar certo?
Para treinar o galguinho a fazer as necessidades no lugar certo, basta
seguir 2 regras (que chamo de R & R: Repetição & Restrição. A primeira
regra é a repetição: sempre que o cão fizer as necessidades
no lugar certo demonstre sua satisfação; se fizer no lugar errado,
demonstre sua insatisfação (sem violência). Estas demonstrações
devem ser no ato, passados alguns minutos o cão já não vai
fazer a associação.
A outra regra é a da restrição: enquanto o galguinho
ainda não foi completamente treinado, se ele ficar sozinho, ele deve
ficar num local onde possa fazer as necessidades a vontade. Em outras
palavras: antes de ter seu galguinho completamente treinado não deixe
ele solto pela casa quando você não está de olho. Em particular:
não deixe o galguinho sozinho onde você não quer que ele faça as
necessidades. Caso contrário vai ser impossível fazer o galguinho
compreender que deve deixar de fazer as necessidades naquele lugar onde
(quando você não está presente) ele faz tranquilamente. No máximo
o galguinho vai entender que é um lugar onde pode tranquilamente fazer
as necessidades sempre que você não estiver presente.
Na edição 74 da revista Cães
de Fato, descrevo o método com maiores detalhes, na coluna Perspectivas Cinófilas.
Quando e onde surgiram os galguinhos?
A maioria dos autores considera que os galguinhos começaram a ser
desenvolvidos há cerca de 3 mil anos na região da atual Grécia
e Turquia. Entretanto há também registros de esqueletos de pequenos galgos, similares
aos dos galguinhos, encontrados no Egito há mais de 5 mil anos. Foi
naquela região do oriente próximo que surgiram e foram selecionados
os primeiros galgos. Estes cães eram de absoluta utilidade na época,
auxiliando as pessoas conseguirem alimento. Mais tarde as diversas raças
de galgos (como o Galgo Espanhol e o Greyhound) foram se estabelecendo
e se diferenciando umas das outras. Tudo indica que desde aquele
período exemplares menores foram sendo selecionados. Há milênios já
haviam pequenos galgos muito semelhantes aos galguinhos de hoje. Muito
provavelmente a função de companhia já começou a ser selecinada desde
aquela época, em paralelo com sua função de caçador. Vale destacar
aqui que o Whippet, apesar de sua aparência tão similar e de ser parente
do Greyhound e do Pequeno Lebrel Italiano, teve uma evolução diferente,
tendo sido desenvolvido na Inglaterra no século XIX.
Voltando aos galguinhos, na Itália da Idade Média e do Renascimento eles eram muito
populares entre os nobres, aparecendo inclusive em várias obras de arte
da época, com destaque para tapeçarias e pinturas.
Com o início da sistematização da criação de cães de raça pura,
na segunda metade do século XIX, o país de origem dos galguinhos
foi considerado a Itália. Durante as guerras mundiais a raça sofreu
bastante na Europa, mas alguns criadores conseguiram manter um plantel
básico, sobre o qual se fundamenta grande parte da criação moderna
daquele continente.
Nos EUA os galguinhos chegaram no início do século XX. Hoje lá se
situa uma criação numerosa da raça, em alguns anos
mais de 2000 galguinhos foram registrados. Na nossa opinião é uma
criação que sem sombra de dúvida atingiu um nível de qualidade
muito elevado. Muitas informações podem ser encontradas no site do
Italian Greyhound Club of
America.
Na Itália, surpreendentemente, não existem muitos criadores. O site
do Circolo
del Piccolo Levriero Italiano, que é o clube italiano da raça tem
informações interessantes, inclusive links para os menos de dez
criadores ativos no país.
Destacamos que diversos criadores fascinados
pela raça têm feito um belo trabalho nos 5 continentes.
Quando é que os primeiros galguinhos chegaram ao Brasil?
O registro mais antigo que temos de Italian Greyhounds no nosso
país é dos anos 1950. O Dr. Roberto Marinho, fundador da Rede Globo de televisão criava galguinhos no
seu Canil da Toscana, tendo importado cães de alguns dos mais importantes
criadores da época. Merece destaque o macho criado na Itália pela
Marquesa Maria Luisa Incontri, Ch. Cadi Del Calcione (Chery v. Gastuna X
Alkmene Del Calcione) e a fêmea Fein Springinsfeld (Knirpes v. Heinbrand
X Pedra Springinsfeld). Vários canis importantes da Europa começaram
suas criações justamente com Calcione e Springinsfeld -- incluindo
Sausewind, Sobers e Manoir des Ombreuses. O Dr. Roberto Marinho registrou o que acreditamos
ser os primeiros Italian Greyhouds brasileiros: Fiorella da Toscana e Fiametta da
Toscana, nascidas no nosso país em 9 de abril de 1957. Outro criador do período foi
Raymundo de Castro Maia, que tinha um cão de outra das melhores linhagens
da época: Karin Di San Siro (Karl v. Baryerischen Meer X Daisy Schonen
Aussicht).
Em seguida, damos um salto para a década de 1960, em que o grande cinófilo de Santos, SP, Osvaldo Riqueto, handler,
criador proprietário do Canil Vale do Sol (ele também criava Greyhounds) importou um casal de galguinhos dos EUA: Paiga's Gay e Paiga's
Saucy Samantha. Conseguimos o registro de uma ninhada destes cães, com apenas uma fêmea: Paiga's Tiny do Vale do Sol, nascida em 15 de dezembro
de 1967. Lamentavelmente, os esforços feitos nas primeiras décadas não tiveram continuidade. (Agradecemos ao grande cinófilo Paulo Roberto Godinho a gentileza de nos enviar cópias dos documentos com estes dados históricos.)
Em seguida damos um salto para o começo dos anos 1980,
quando o já falecido criador e engenheiro Dr. Marcelo Andrade Neves, do
Canil Vanmarck, de Belo Horizonte, importou simultaneamente vários
cães dos E.U.A. Segundo o nosso levantamento foram 9 cães, mas
outras fontes citam outros números. Esta importação foi realizada
com a assistência do grande handler brasileiro Flávio Werneck. Estes
são os primeiros galguinhos dos quais conseguimos rastrear decendentes
hoje no Brasil. As importações do Dr. Marcelo estão listadas abaixo.
Os títulos obtidos no Brasil não estão completos. Estes cães são
definitivamente das melhores linhagens disponíveis nos E.U.A. na época,
e foram eles que me cativaram para a raça.
- Donnell's Carwind (F) (Am. Ch. Wavecrest Donatello X Am. Ch. Dasa's Elementary D'Donnel)
- Ch. Dewitt's Isle of Bimini (F) (Am. Ch. Giovanni's Pistacchio X Am. Ch. Capri of Donnel's Seven)
- Am. Ch. Wilwyn's Silver Slipper (F) (Am. Ch. Pikop's Little Winemaker Me X Am. Ch. Wilwyn's Pollyanna)
- Am. Can. Berm. Ch. Wilwyn's Tina (F) (Am. Ch. Cleden's Gold Coin x Am. Ch. Wilwyn's Graffiti)
- Tudor's Golden Glamour (F) (Am. Ch. Northbrook Swingin Satino X Ch. Tudor's Diamond Ice)
- Ch. Paiga's The Jimini (M) (Paiga's Hobbit X Am. Ch. Jachelam's June Pride)
- Mike Mar's Royal Blue (F) (Mydra Magic of Mike Mar X Am. Ch. Willwin's Silver Slipper)
- Mike Mar's Hi Stepper (M) (Am. Ch. Mike Mar's Monday Blues X Mike Mar's Royal Blue)
- Ch. Mike Mar's Sky Rocket (M) (Am. Ch. Mike Mar's Monday Blues X Mike Mar's Royal Blue)
Logo em seguida, uma personalidade do Rio Grande do Sul, o jornalista Paulo Gasparotto,
de Porto Alegre, também realizou importações de galguinhos dos E.U.A.,
além de ter obtido cães Dr. Marcelo (inclusive o cão Ch. Mike Mar's
Sky Rocket, listado acima). Paulo Gasparotto é um importante jornalista
gaúcho, sendo uma celebridade no seu estado, muito conhecido pela sua trajetória que passou
pelos principais jornais gaúchos, tendo também apresentado programas de TV. Além dos
galguinhos, Paulo é também grande conhecedor de arte, e tem talvez a
coleção mais completa da América do Sul de objetos de arte relacionados
à raça. Anos mais tarde Gasparotto trouxe para o Brasil (em ocasiões
diversas) duas fêmeas Tekoneva de linhagem Necku. Mais recentemente e
para nosso orgulho, Paulo adquiriu a fêmea de nossa criação Hanya do
BR Reino, irmã da PePa, filha do
PePe e Dora.
Deve ser destacado aqui também o Canil Petit Bandit, da criadora Eliet
Petit, de Porto Alegre, que obteve seus cães inicialmente do Canil
Coronilha. Este canil teve representantes importantes nas exposições
nos anos 1990 e também na virada do século, inclusive com galguinhos #1
do Brasil no Ranking CBKC de 2000 e 2004 (pontos de grupo). Ainda nos anos
90, outra referência em galguinhos no Brasil era a D. Helena Coragem,
do Canil Baktaran, de Brasília. Ela formou formou seu plantel com cães
brasileiros e uma importação de Portugal, o cão Gallahad's Al Pacino.
Nos anos 1980, também merece destaque uma galguinha importada
da Argentina, do Canil Newcastle: Ch. Gr. Ch. Ch. Int. Kilt Kuka of
NewCastle (Ch. Int. Wipo Carolino X Ch. Ur. Gr. Ch. Arg. Ch. Int. Lola
Sans Souci), que competiu em muitas exposições no Brasil, sendo de
propriedade do Canil do Ypê, do Rio de Janeiro (se alguém souber
o nome da senhora proprietária deste canil, por favor nos envie um
e-mail, ainda não consegui achar! Sei que criavam também Pinscher
Miniatura). Esta galguinha foi o Pequeno Lebrel Italiano #1 do Brasil
de 1981, mas não conseguimos identificar descendentes desta cadelinha,
o que não significa que não existam.
Ainda no começo dos anos 1980, houve uma outra signficativa importação:
Cláudio Gornati trouxe 5 galguinhos da França para o seu canil,
na época chamado Whipojuca (sim, ele também criava Whippets).
Em agosto de 1982 na exposição do Kennel Clube Paulista eu tive o
prazer de ver dois destes cães: a fêmea Samba des Pitchun Diables
(Sober's Liviro X Polka des Pitchun Diables) e o macho Sirius des
Pitchun Diables (Sober's Glorius X Nolane des Pitchun Diables).
Apesar de ter interrompido a criação ainda nos anos 80, 25 anos depois
Cláudio voltou a criar galguinhos, junto com Rochester Oliveira, no Canil Salatino. Nestes vários
anos Cláudio e Rochester fizeram várias importações, tanto da Europa
como dos Estados Unidos, incluindo cães do mesmo canil de onde tinha
obtido cães no início dos anos 1980, Pitchun Diables (França).
E como seguiu a evolução da raça no país?
É possível dizer que a base da linhagem brasileira de Italian
Greyhounds se firma sobre cães Vanmarck & Coronilha. Eles aparecem
como ancentrais em porcentagem significativa dos pedigrees de cães do
nosso país. Podemos dizer o mesmo do nosso Baldo.
Uma galguinha de linhagem brasileira por muitas gerações é a nossa BiBi - Ch. J. Gr. Ch. Br./Pan. Ch. Int. Jarzebina do BR
Reino, Multi BIS Placer. É possível dizer que é uma galguinha que
carrega grande parte da história da raça neste país em seu pedigree.
BiBi é bisneta do belo cão Ch. Gr. Ch. Crown Jewell's Armani, de
propriedade do notável arquiteto Carlos Fortes, de São Paulo. Armani
foi Italian Greyhound #1 do Brasil no Ranking CBKC de 2003. A criadora
proprietária deste canil, Maria
Eugênia Cerqueira (então Sahagoff),
trouxe três cães dos E.U.A. para o Brasil, um macho e duas fêmeas,
de linhagem Marchwind. Um dos machos era o cão classificado em grupo nos
E.U.A., Am. Ch. Johma Denver of Marchwind. Alguns criadores brasileiros
(inclusive nós mesmos) ainda mantêm esta linha de sangue.
A linhagem do Canil Vanmarck não se perdeu por pouco. Na virada
do século uma galguinha Vanmarck já com 8 anos na época (Erika de
Vanmarck) foi localizada pela criadora Kátia Costa do Canil Sumainana,
do Rio de Janeiro, que conseguiu registrar uma filha da galguinha no seu
próprio canil: Sumainana Cleopatra (Cleo). O Canil Vanmarck já estava
desativado, e a cadela já tinha 8 anos, assim foi um acontecimento
significativo que "o último" dos exemplares não se perdesse. Logo que
o Baldo chegou ao Brasil, ainda no ano 2000,
ele fechou o campeonato brasileiro no mesmo ano e fizemos um anúncio no anuário
da revista Cães de Fato de
2001. A Kátia Costa viu o anúncio e nos contactou. Cleo foi acasalada
2 vezes (anos 2001 e 2002) com o nosso Baldo, produzindo um total de 6
filhotes, todos foram usados na reprodução.
Hoje vários criadores
possuem cães descendentes daqueles filhotes, que estão espalhados por
literalmente todo o país.
Eu mesmo consegui direcionar os cruzamentos
a partir de uma daquelas galguinhas que em algumas gerações resultou
na minha amada preta JuJu, e seus muitos descendentes.
O canil Sumainana recebeu também alguns cães
descendentes de um casal de galguinhos holandeses que foram importados
para o Rio de Janeiro no começo dos anos 2000: My Ceasar's Own Gino e
Fiefoerniek's Foreign Affair.
Outro belo cão que também tem uma boa parte da história da raça no
Brasil em seu pedigree, neto do nosso Baldo, é o Multi-Ch. Sumainana
Miró, Italian Greyhound #1 do Brasil no ranking CBKC de 2008.
De propriedade do Canil Apoama, de Goiânia, Miró demonstrou sua
qualidade como reprodutor, sendo pai de diversos campeões
com muitas qualidades. Seus filhos BIS Multi-Ch. Apoama Bibica (filha
de Ch. Autumn Breeze do Castelo de Alfaia, Portugal), Multi-Ch. Apoama
Lolozinho (filho de Ch. Newcastle Pilar, Argentina), foram IG's #1 do Brasil
de 2011 e 2010 respectivamente, e a Multi BIS-Jr. Apoama Amendoa, filha
de Ch. Autumn Breeze do Castelo de Alfaia, Portugal) foi #1 em 2012.
Na geração seguinte, destacou-se Ch. Apoama Alex, filho de Lolozinho e a colombiana
De La Casa de Borromeo Nefertary. Foi exportado para a Colômbia o cão Apoama Baru,
pai do Multi-Ch. De La Casa Borromeo Fabinho,
exportado para a Rússia, onde tem uma carreira de sucesso nas pistas e reprodução.
Durante alguns anos os amigos Dirk Vogt-Lahr and Alessandro Lahr
moraram no Brasil com o belo Lino, Ch. Alemão e Brasileiro
Ch. Gr. Ch. Ch. Pan. Gr. Ch. Pan. Ch. Int. Harlekin El Akash.
Lino teve resultados expressivos nas pistas brasileiras e
acasalou com duas galguinhas do Reino, sendo pai da nossa
Dora, que nos proporcionou a grande honra de ser
o primeiro Italian Greyhound vencedor de BIS (adulto, todas
as raças) no Brasil (em julho/2010), por sua vez mãe da Am. Ch. PePa,
o primeiro Italian Greyhound nascido no Brasil a fechar campeonato
nos EUA (em 2012). PePa produziu 3 filhos vencedores em três
continentes: Bidu nos EUA,Graf na Russia, e Peter
no Brazil.
E a história mais recente da raça?
Nos anos 2010 diversas novidades no mundo dos
galguinhos. Vou começar pelo meu amigo Cleber Delázari, Maison D'Etoiles IG's. Além
de ser proprietário e ter feito uma belíssima campanha com a nossa RBIS/BJIS Ch. Cecylia do BR Reino (SiSi), Cleber
tem diversos outros cães importantes, seguindo a linha iniciada pelo
Canil Silkrock. Tradicional criador de Whippets, o Canil Silkrock que também teve
um belíssimo casal de Greyhounds vindos da Escandinávia, trouxe para o
Brasil 4 galguinhos no início dos anos 2010: Ch. Bo Bett Silkrock Oliver
(EUA), Ch. Strippoker Snow White (Holanda), Da Vinci's GV Lulu White
e Da Vinci's GV Calamity Jane (Colômbia). Estão no Maison D'Etoiles
hoje descendentes destes cães: Ch. Silkrock Drummond Hills Bessie,
Ch. Silkrock Archie e o belíssimo Ch. Silkrock Drummond Hill's Bailey.
Está também no Maison D'Etoiles o belo cão J.Ch. Le Ice At Direnna
Du Domain Du Chanteloupe, originalmente importado pelos amigos e
colegas árbitros Roberta Direnna e Patrício Peruzzo (Rio de Janeiro
- Direnna's IGs), do Rio de
Janeiro. Patrício e Roberta, que já interrromperam a criação da raça,
fizeram diversas importações, tanto da Europa como da Colômbia (De La
Casa Borromeo IGs). O belo cão Ch. De La Casa Borromeo El Bandido foi
IG #1 no Ranking Dog Show da raça de 2014. Outros cães e a própria
criação Direnna fizeram grande sucesso nas pistas e rankings. Vou
destacar a bela J. Ch. Direnna's Reina Isabelle, primeiro galguinho
italiano a ganhar 1o de grupo sob julgamento deste que vos escreve,
atualmente de propriedade de Thiago Souza, de Porto Velho, Rondônia.
Sabino Vianna (Snug Buffs IG's, Rio de Janeiro) nos deu muito
orgulho de ter selecionado a super Ch. Oliwja
do BR Reino (Oliwja) como fundadora. Oliwja é filha do cão
mencionado acima, Ch. Bo Bett Silkrock Oliver, com a nossa JuJu. Outros galguinhos de Sabino incluem a
Ch. Salatino Rosana Morgantini, e o macho Made In Italy Di Lupavaro,
importado da Itália. A nova geração Snug Buffs está começando sua
carreira nas pistas com muito sucesso, destacamos a Ch. Snug Buff
Diana Prince, filha da Oliwja com Ch. Davinci's Angelo Mio, com múltiplas
classificações em BIS Filhote, e o Ch. Snug Buff Popeye (Oliwja X Made)
vencedor de BJIS.
Entre as diversas novidades no mundo dos galguinhos no Brasil, Gabriel
Valdez (Da Vinci IGs), árbitro de todas as raças e handler profissional
de sucesso internacional, está estabelecido no país, no estado de
São Paulo. Antes Gabriel já havia morado no Brasil por períodos
curtos. Diversos criadores têm cães Da Vinci, incluindo Therezinha Silva
Mello (Our Angel Eyes IGs, no Rio de Janeiro), Flávia Mouco (Pandora's Box
IGs, São Paulo) e Cláudio Henrique Ferreira (Sable Dune IGs, Fortaleza, CE).
Com múltiplos Best In Show, os cães apresentados por
Gabriel Valdez tem tido muito sucesso nas pistas e nos rankings.
Outros amigos que preciso mencionar são Tiago e Ana Paula Ruzinski, do
Canil Von Nordsonne,
de Brusque, Santa Catarina, que tem uma parceria com o Lailton Rocha,
de Curitiba. Lailton começou com uma fêmea de linhagem profundamente
brasileira, inclusive neta do nosso Baldo, a Gigi Maykleiton. Ela foi
acasalada com o nosso Tavi e foram estes os
primeiros galguinhos da Ana e Tiago: Galgos Tapajós Zorro do BR Reino
e Galgos Tapajós Perla do BR Reino (a ninhada foi registrada no nosso
canil). Os galguinhos seguintes da Ana e Thiago (Amandicta Biasotto
Exóticos e Sumainana Grigio) também tinham lá atrás nossa linha de
sangue, em particular o Baldo e o Cori (Coriolanus do Reino, Baldo X
NiNi). Na sequência, vieram diversos outros cães de outras linhas de
sangue, incluindo o belo Ch. Direnna's Quick Star, De La Casa Borromeo
El Guernica, De La Casa Borromeo Leah, Direnna's Luah, entre outros.
Outros entusiastas com a raça tem surgido, vários estão expondo seus
galguinhos. Também já é possível perceber aqueles com foco mais
comercial, com fortes campanhas permanentes de venda de filhotes.
O número de registros de galguinhos no Brasil tem crescido com
força. Por exemplo, de 2005 a 2008 o número dobrou: de 47 em 2005 para
cerca de 100 em 2008. Naqueles anos os números são aproximadamente
metade dos registros na Itália (117 em 2005, 204 em 2008). Em 2010 foram
registrados 116 galguinhos no Brasil, com um salto para 146 em 2011 e
184 em 2014. Dados mais recentes indicam que o crescimento continua aquecido.
Em 2017 foram registrados 276 galguinhos no Brasil e em 2019 o número é extraordinário:
422 registros. Confesso que estes números causam certa preocupação, pois
acreditamos que os galguinhos, pelas suas características físicas, não
podem se transformar em uma raça "popular", especialmente devido ao risco
concreto de fraturas. Além disso é sempre importante lembrar que a raça
não permite criação em grande escala, muito menos em canil externo.
Observação: esta pode ser considera apenas uma pincelada na história
da raça no país. O objetivo não é fazer uma análise exaustiva de
todos os criadores. Estamos continuamente atualizando esta visão parcial
da trajetória dos galguinhos no Brasil.
Quais são as cores do galguinhos?
As cores dos galguinhos são realmente fascinantes, e não é fácil
descrevê-las! Talvez a cor mais típica da raça seja a cinza (azul), que
existe em várias tonalidades desde o cinza bem claro até o ardósia ou
cinza-chumbo. Deve-se destacar que o focinho (trufa) destes cães deve
ser bem pigmentado, preto ou cinza escuro, e não de uma cor clara diluída.
A segunda cor é isabela, que também vai de um tom claríssimo, até cães
quase marrons, passando por muitas tonalidades intermediárias, puxando
para o creme, o camurça, avermelhado e o dourado.
A cor mais popular hoje nos E.U.A. é o vermelho, que tem diversas
tonalidades, que vão desde dourado, passando por castor até um mogno bem escuro.
Vale destacar que na Itália, e em toda a Europa, todos os tons do creme claro
ao camurça escuro,
inclusive dourado, vermelho e outros similares são chamados de isabela.
Existem cães que misturam cinza e isabela: se o cão é cinza com pelos
isabela, não há denominação especial; mas, se o cão é isabela com forte
sombreado cinza cria-se um resultado bastante peculiar, e a cor é chamada
blue-fawn que no Brasil temos traduzido como isabela-acinzentado.
A seguir temos o preto, que muitas vezes tem alguns poucos pelos
vermelhos ou isabela. Se há grande quantidade de pelos
vermelhos/isabela espalhados por todo o corpo,
cria-se um efeito bem particular, e a cor é chamada
seal, ou café. A cor seal não é chocolate, pois o focinho
é preto, e não chocolate.
Pois a gente não cansa de se surpreender: recentemente pude
comprovar que existem também galguinhos chocolate "de verdade", veja este
cão, note que não apenas o corpo, mas o focinho também é
chocolate.
Por fim, um cão isabela ou vermelho pode ter pelos pretos misturados
na pelagem. Se a quantidade de pelos é grande, então o resultado é a
cor sable, que existe também em vários tons.
Em algumas linhagens os cães ficam "grisalhos" muito cedo, em certos casos a
partir de 12 meses já começam a surgir pelos brancos na cabeça; não confundir
com as marcações brancas descritas a seguir.
Apesar do padrão da FCI permitir o branco apenas no peito e nas patas
(extremidades), existem galguinhos brancos sólidos, e três tipos de
malhados de todas as cores acima: pied, com predominância de
branco, Irish com colar e botas brancas, e wild-Irish,
que é o Irish com malhas brancas pelo corpo.
De onde surgiu a restrição da FCI sobre as marcações brancas?
É importante deixar claro que a grande maioria dos galguinhos de
todo o mundo tem mais branco do que o permitido no padrão da FCI. É
importante destacar que dois países membros da FCI, Japão e África do Sul,
optaram por permitir que seus criadores exponham galguinhos malhados e
com marcações brancas. O Japão é o país que registra o maior número de galguinhos
no mundo, com cerca de 3000 registros anuais. Na própria Itália há
criadores (entre os cerca de 9 que produzem ninhadas regularmente)
que advogam que o padrão seja modificado para permitir mais branco do
que atualmente: peito e patas. Os padrões adotados nos E.U.A. e Canadá,
Austrália e Nova Zelândia, além do Japão e África do Sul citados acima,
e principalmente Reino Unido onde a raça é criada continuamente pelo menos
desde o século XIX, todos permitem cães com marcações brancas.
Estes países concentram não apenas quantidade, mas também qualidade em
termos da conformação dos galguinhos que criam.
Não é dificíl concordar com os criadores de todo o mundo que advogam
que devem ser permitidos galguinhos malhados e com marcações brancas.
Repito: a maioria esmagadora de galguinhos de todo o mundo tem mais
branco do que atualmente permitido no padrão italiano/FCI. De onde será
que surgiram estes galguinhos? A resposta é sempre existiram!
Desde a mais remota antiguidade os galguinhos tiveram branco e muitos
deles eram malhados ou tinham marcações brancas. Diversas obras primas
do Renascimento mostram galguinhos malhados, esta foi uma época
em que se tornaram muito populares na Europa. Veja por exemplo o quadro abaixo:
Esta é uma obra do ano 1757, século XVIII (não é um Whippet, nesta época os Whippets ainda não haviam sido criados)
do pintor Marcelli Bacciarelli, que mostra um galguinho vermelho com branco.
A obra abaixo é outro exemplo, também do século XVIII portanto antes do desenvolvimento dos Whippets, intitulada "The Marlborough Family", de autoria de Sir Joshua Reynolds (1723-1792):
Estes são apenas dois de muitos, muitos documentos pictográficos que
documentam o fato de que antes da segunda metade do século XX nunca
houve restrição aos galguinhos malhados.
Então, de onde surgiu esta restrição? Por que o padrão hoje pede
que não tenha branco se durante milênios (literalmente!) eles sempre
tiveram branco e sempre foram malhados? A reposta é bastante curiosa. No
final da 2a Guerra Mundial, a criação de cães de raça pura estava
destroçada na Europa como um todo, em particular na Itália. Basicamente
restou uma (é isso mesmo: UMA) criadora em todo o páis: a Marquesa Maria
Luisa Incontri, do famosíssimo Canil Del Calcione. Sabe-se que todos
os galguinhos da Marquesa eram absolutamente sólidos e que ela defendia
que só poderiam ser assim. A FCI considera a Itália o país de origem
da raça e são seus criadores que determinam o padrão FCI. A determinação é portanto
bastante recente, se considerarmos toda a história da raça.
Como diversas obras de arte antigas
mostram galguinhos malhados é difícil acreditar que a posição da Marquesa
se deveu a desconhecimento desta variedade de cor na raça. Sabe-se que
ela afirmava que os galguinhos malhados de tais quadros antigos eram na
verdade da cor isabela, e as malhas eram indicações de reflexo de luz. Por
outro lado, é fato que todos os seus cães eram absolutamente sólidos.
Em uma matéria sobre a raça na revista
Cães & Cia número 200, de janeiro de 1996, dois criadores italianos
foram entrevistados: Paola Bocca e Aldo Cerletti (Del Discoletto IGs).
Pois eles revelam que no final da década de 1950 criadores europeus
foram consultados sobre a aceitação de malhas brancas e foi tomada a
decisão pela não liberação. A criadora Paola Bocca chega a mencionar
que esta decisão teve o objetivo de "diferenciar bem a raça do Whippet". Aldo
Cerletti levanta um ponto interessante, de "não perder todo o trabalho de seleção"
feita para eliminar o branco.
A situação hoje é bastante complexa: criadores
na Europa continental têm selecionado de acordo com os critérios
da Marquesa há cerca de 80 anos. Não se pode simplesmente dizer a
eles que estava tudo errado e que agora é possível ter galguinhos
brancos. Eles trabalharam durante décadas para eliminar o branco --
que inclusive sempre resurge em suas criações. Mas repito, são poucas
dezenas de criadores, um número bastante reduzido comparado ao número
de criadores no mundo que utilizam cães malhados.
Nas nossas conversas com criadores de galguinhos de vários países
surgiu o que nos parece ser a única solução para este dilema: aprovar
uma variedade malhada de galguinhos, da mesma forma que existem
Poodles com variedades de cores diferentes no padrão FCI, e Bull Terriers
e Cockers Americanos com variedades de cores diferentes no padrão AKC.
Consideramos uma grande felicidade que os belíssimos galguinhos malhados
foram preservados. Isso se deveu em primeiro lugar porque o Kennel Club
da Inglaterra (Reino Unido) nunca incorporou a mudança da Marquesa
em seu padrão. É fácil entender o por quê: os galguinhos são
continuamente criados no Reino Unido pelo menos desde o século XIX,
quando começou a sistematizão da criação de cães de raça pura.
Mesma época em que começaram a ser criados nos E.U.A. Quer dizer:
não é difícil concluir que, quando só restava o Canil Del Calcione
na Itália, a raça estava bem mais preservada na Inglaterra e E.U.A.. Em
síntese, os países que permitem galguinhos com marcações brancas são:
Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Japão
(FCI) e África do Sul (FCI).
De onde vem o nome "Canil do Reino"?
Há muitos e muitos anos, conheci uma fazenda no interior
de Minas Gerais, que se chamava "O Condado". Esta fazenda me
impressionou profundamente, e depois ganhou cores ainda mais
fortes no meu imaginário. Anos mais tarde, em agosto de 2000 tentei
registrar o "Canil do Condado", inclusive daí veio o nome de pedigree
do Baldo, gentilmente anexado como sufixo pela
sua criadora Lilian Barber. Entretanto a FCI rejeitou este nome, que já
estava em uso, e ficamos imaginando qual outro poderia ser usado para
substituir um planejamento de décadas.
Um dia, nosso amigo Martin Musicante, que é argentino mas morou muitos
anos em Pernambuco, comentou sobre um bar muito tradicional do Recife
antigo, o Bar do 28, que só servia whisky escocês, guaraná e sanduiche de queijo DO
REINO. Quando ouvi a referência ao famoso queijo, não tive dúvidas quanto
à escolha do nome do canil. O nome foi então confirmado pela FCI em 2001,
para nossa surpresa e alegria. Em 2005 tivemos de forma compulsória o
acréscimo do "BR", de forma que nossos cães são registrados "BR Reino".
Muitas das informações expressam nosso ponto de vista sobre os Italian
Greyhounds, decorrente da nossa experiência pessoal com a raça.
As informações disponíveis nesta página podem ser utilizadas, mas ao
fazê-lo, por favor, indique a fonte: página Web do Canil do Reino:
www.canildoreino.com.br
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